Ao lado da digressão, Marcelo Cid vale-se com igual competência da ironia, lançada de maneira refinada para quase sempre camuflar uma acidez de caráter machadiano. Talvez seja impossível não comparar o estreante ao Velho Bruxo no que tange ao uso da referida técnica, mas o cotejo não é necessariamente um expediente de fácil submissão do novato ao canônico, principalmente porque o autor soube dar ares novos a uma característica antiqüíssima, tomando como seu algo que é de muitos, como diz o próprio narrador (“Ora, mesmo em literatura, louvamos em autores clássicos artifícios que julgamos ridículos nos que vieram depois”).
(Prosador fingidor, por Marcos Pasche)
Até que ponto a biografia é dos desejos? É um questionamento que pode ser feito sobre a propriedade do título do romance. Desidério vem de desejo, é um ser desejante como as outras criaturas que com ele contracenam. Mas isso será suficiente para defini-lo? As histórias que aqui se narram falam de desejos, mas também de frustrações, de incomunicabilidade, da inércia frente aos obstáculos que a vida inexoravelmente impõe. Que papel teriam os desejos nesse conjunto paradoxal de sentidos, sentimentos, paralisações, ações e reações? Que expectativas do leitor são satisfeitas ou frustradas nesse processo? Cabe, estabelecer as diferenças entre surpresas produtivas e hermetismos impenetráveis. Neste sentido o narrador de Tridapalli esforça-se para garantir coerência em meio a tantos paradoxos.
(A reinvenção da vida, por Vilma Costa)
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