A
história deste artista que circula na contramão da indústria cultural e da Academia
não poderia ser uma narrativa linear. Para dar conta de tantos mergulhos,
viagens e saltos mortais na matéria da arte, esta só poderia ser uma história à margem.
A
memória é uma coisa muito difícil. Você tem uma imagem do que aconteceu na sua
adolescência, mas na hora de contar, nada chega aos pés da sua vivência.
A memória é o fio condutor de Uma
história à margem, romance autobiográfico do poeta Chacal. Uma autoficção
singular, como a própria vida deste ícone da poesia marginal.
Poemas, artimanhas e aventuras se revezam ilustrando
os primeiros encontros de Chacal com a poesia, ainda adolescente, até a
expansão da sua verve poética para além das fronteiras do papel – na música, performance e teatro.
Sua palavra
vívida joga luz sobre a geração mimeógrafo, a poesia marginal e sobre os mais
emblemáticos movimentos culturais cariocas das últimas décadas. Sobre a
trajetória de todos os personagens que o acompanharam, ao longo dos últimos 40
anos, nessa aventura que é fazer arte pela arte.
Não
sou um estudioso, um sociólogo, nem ao menos um jornalista, nem Heloísa Buarque
nem Ruy Castro – sou uma pessoa que viveu isso. E é
isso que eu queria: poder contar essa história do meu modo. Sem pretensão
analítica, intelectual, ou de ser fiel aos fatos, que é uma coisa mais
jornalística – a minha coisa é mais afetiva, emocional – comenta.
Alimento
para as novas gerações
Na linguagem ágil que marca sua poética, Chacal
revela a gênese de grupos emblemáticos como Asdrúbal Trouxe o Trombone e Nuvem
Cigana, recorda os áureos tempos do Circo Voador, conta detalhes dos bastidores
da Blitz, do movimento de performance dos anos 90, até a criação do CEP 20.000,
o Centro de Experimentação Poética que comemora vinte anos de efusiva atividade.
Relembra as peripécias e aventuras artísticas dos eventos da Souza Cruz, do
Miscelânea Odeon e de outros movimentos –
que têm em comum o impacto na produção cultural do país e a quase total
ausência de registro. Afinal, não são
considerados coisas sérias, explica Chacal.
O poeta também passa a bola para figuras essenciais
na efervescente cena cultural da cidade maravilhosa, que contribuem com os seus
depoimentos. Fiquei muito receoso, porque
chamei pessoas com quem nem tenho mais tanta intimidade, mas todos
toparam.
O resultado? O
livro não fica só nas lembranças, o texto se amplia.
Acho importante registrar memórias
contemporâneas de coisas recentes ainda, importante para as novas gerações
saberem o que aconteceu anteontem. Porque hoje em dia o ontem já é tão distante
que o anteontem é quase um passado pré-histórico – explica Chacal. Waly
Salomão falava muito (em) alimento para as novas gerações.
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