Em entrevista a Vitor Pamplona , do Jornal A Tarde, Sonia Coutinho fala da reedição de Atire em Sofia.
O que me dá muita alegria é continuar escrevendo
Vitor Pamplona – Jornal A Tarde (Salvador, 26 de julho de 2010)
Vinte anos depois de publicado,
Atire em Sofia, romance mais conhecido da escritora baiana
Sonia Coutinho, é reeditado pela editora carioca 7Letras.
O livro não ganhou apenas um novo projeto gráfico na capa, mais agressiva que a anterior, mas uma completa atualização da narrativa e de certas expressões, como revela a escritora em entrevista exclusiva a A TARDE. "Não gosto de reler um livro quando termino de escrever. Mas, depois de 20 anos, comecei a reler Atire em Sofia, naturalmente achei muita coisa que eu queria mudar". No processo, termos como máquina de escrever, uma ferramenta absolutamente desconhecida para os leitores mais jovens, foram substituídos por outros mais atuais, como computador portátil. A ideia de atualizar o livro teve consequências inesperadas, como a supressão de um capítulo inteiro. "Achei que era uma outra história, desviava muito da linha da narrativa. Eu tirei e transformei num conto". A decisão, acredita Sonia,deu mais vigor à obra, que conta a história de uma mulher divorciada que retorna depois de muitos anos a Salvador, sua cidade natal – embora o nome da capital baiana jamais seja citado. No regresso, ela se depara com uma cidade quente, marcada por um realismo afro fantástico. E sofre o preconceito e a desconfiança que sua condição provoca na província. O novo Atire em Sofia será oficialmente lançado em Salvador no próximo sábado, às 10 da manhã, na Livraria LDM (Rua Direta da Piedade, com a presença da autora, que mora no Rio de Janeiro há 40 anos.
Atire em Sofia fala de uma mulher que enfrenta dificuldades e preconceitos por viver só e ser independente. Depois de 20 anos, ainda é assim?
Esse problema não é tão insistente no livro. Se formou essa ideia porque eu sempre dei muita ênfase a personagens femininas, e minha literatura gira toda realmente em torno de mulheres. Nesse livro não, tem muitos personagens masculinos. Mas se formou essa ideia,embora lendo e relendo o livro se vê que ele tem muitos outros aspectos. Tem a questão negra na Bahia, por exemplo, que me interessava muito, a questão da hibridização de gêneros.Tem um pouco de romance policial, mas não é romance policial. Tem muito de literatura fantástica, toda hora tem transformações, aparições. Tem uma personagem feminina realmente, a Sofia, que enfrenta problemas porque é uma mulher sozinha, separou de um marido fazendeiro. Mas o livro não tem uma narrativa datada, porque está tudo na memória de uma pessoa. Pode ter acontecido agora ou há vinte anos. Aliás, o problema dela aconteceu muito tempo antes. É uma pessoa que lembra essa história.
Mas as situações pelas quais ela passa continuam atuais?
Essa é uma questão sociológica, acho que o problema, a questão da mulher, continua complicado. Internacionalmente, não só na Bahia ou Brasil.